quinta-feira, 7 de abril de 2011

YES, NÓS TEMOS MASSACRE

Acabamos de, finalmente, entrar no primeiro mundo por completo. Ou, pelo menos, de replicar todas as suas mazelas. Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste da capital fluminense, entrou ali armado até os dentes nesta manhã do dia 07, abrindo fogo, matando onze crianças e se matando logo em seguida. Deixou uma carta, escrevendo coisas desconexas. Só faltava isso para conseguirmos imitar de vez os Estados Unidos! Chocados, não paramos de nos perguntar por que coisas assim acontecem. Pois bem, eu arrisco um palpite: pra mim, a culpa é do consumismo.

O grande problema da tal “pós-modernidade”, a era em que vivemos, é que, infelizmente, botamos todo nosso referencial no consumo. Zygmunt Bauman (1925 - ), sociólogo polonês, em sua definição de “modernidade líquida”, já dizia que, com a perda da tradição, do valor universal do mestre, as nossas subjetividades afloraram. Somos bombardeados diuturnamente com estímulos aos nossos desejos, muitos dos quais inalcançáveis e que geram uma profunda sensação de impotência. Fala-se em “ditadura da beleza”, promete-se a juventude eterna, criando uma legião de frustrados. E o pior é que não nos damos conta de que a mesma propaganda exibida nos lares do asfalto também o é nas favelas. Daí começam as distorções, o ódio e a barbárie daqueles excluídos do sistema, que tiram sua vida por uma joia, um carro, um tênis ou mesmo uma pedra de crack, uma das muitas substâncias usadas como forma de escapar à crueza da nossa realidade. É a força motriz da violência, é o dedo que toca a ferida, dentre tantos.

O mesmo problema da pós-modernidade também se observa em âmbito micro – e é aí que se encaixa melhor o porquê do massacre na escola do Rio de Janeiro. Impossibilitados, na maioria dos casos, de satisfazer a todos os nossos desejos de consumo, somos levados à frustração, à inveja e à infelicidade. Estratificamos, como na nação ianque, nossos conhecidos em loosers e winners, perdedores e vencedores, e discriminamos os primeiros, praticando o bullying, outra cópia maldita. Assim, pessoas com o mínimo de propensão ao desajuste, como Wellington, por exemplo, encontram campo fértil, em suas imaginações doentias, para a prática de atos como os que aconteceram hoje. É o nosso mundo fabricando neuróticos, pessoas desajustadas e incapazes de entender e respeitar o outro como ser humano, pois não conseguem buscar identidade numa sociedade tão fragmentada, tão carente de referenciais.

Infelizmente, zerar a violência é algo impossível. Até mesmo em sociedades muito mais desenvolvidas isso não existe! Mas, certamente, se quisermos mesmo ser os “Estados Unidos do Sul”, é bom que comecemos a copiar modelos positivos não só desta, mas de outras civilizações. Nova Iorque, com a política da tolerância zero e a promoção de ocupação para os jovens, diminuiu suas taxas de criminalidade; foram adotadas mochilas em material transparente, para facilitar a visibilidade de armas ou drogas; e os EUA, hoje, vivem no combate à obesidade, outro mal que também se alastra aqui. Não é difícil, basta apenas vontade política de querer o que é bom, e não apenas o consumismo estéril, a fragmentação da identidade e agora as tragédias em escolas. Yes, nós temos massacre.

domingo, 3 de abril de 2011

O TEATRO E O MUNDO CORPORATIVO

Olá, leitor, quanto tempo, né? Confesso que ando meio sumido daqui do blog, mesmo, mas hoje resolvi retornar com um assunto muito interessante: teatro. Quer dizer, na verdade, do que está por trás do teatro, do que ninguém vê. Dos exercícios. Estranhou? Pois é, leitor, até pra fazer teatro tem de se suar a camisa (literalmente!). E o negócio não é fácil, não. Mas, acredite, os exercícios teatrais podem (e muito!) ser uma valiosa ferramenta para o mundo corporativo. Duvida? Então, veja só.

O teatro é, antes de mais nada, um trabalho de equipe, tal como acontece nas empresas. Mesmo sozinho em cena, o ator precisa do grupo, tal como o colaborador. Um exercício interessante para estimular esse aspecto é o do cardume: põem-se os participantes para andarem em bloco, um ao lado do outro, o mais próximo possível, como se todos formassem uma coisa só, de tal arte que um participante propõe uma ação, que deve ser seguida por todos. Por exemplo, um assovio. Se um assoviar, todos devem fazê-lo também. Esse tipo de exercício faz com que o ator tenha a consciência do grupo e que o colaborador estimule o trabalho de equipe, alinhando sua participação com a dos demais.

Outro exercício interessante é o do eixo. Põe-se, ereto, um membro do grupo, rodeado pelos demais, todos com as mãos espalmadas. O participante que se encontra no meio deve, assim, deixar o corpo, hirto, cair em qualquer direção, sendo amparado pelos demais que, ao mesmo tempo, jogam o corpo do colega para uma outra, como em uma brincadeira de “joão-bobo”. Tal exercício trabalha a confiança de um membro do grupo nos demais e a responsabilidade desses para com os participantes. No mundo cênico, tal é importante para criar uma unidade de corpo nos atores; no mundo corporativo, para que o colaborador aprenda a respeitar o colega e a medir a extensão dos seus atos.

O exercício dos bastões também pode ser muito útil. Consiste em dispor os participantes em roda, colocando outro, mais uma vez, no meio. Um bastão circula dentre os que estão dispostos em roda, enquanto outro é lançado, verticalmente, para um colega qualquer, pelo membro de dentro, após estabelecimento de contato visual. Em teatro, o exercício serve para aguçar a atenção do ator para com o colega de cena e para com o que está acontecendo a seu redor. No mundo corporativo, tal pode ser interessante para trabalhar a concentração do colaborador no trabalho e também “antená-lo” no que está acontecendo a sua volta.

Enfim: alguém disse que vida de artista não é fácil. A vida nas empresas também não. Para ser ator é necessária muita disciplina, chegar cedo aos ensaios e muito estudo ao longo da vida. Nas grandes empresas e escritórios, também. Um profissional bemsucedido, de qualquer formação, também precisa de muita disciplina, afinal, se o ator possui direção, o colaborador de uma empresa possui coordenação, gerência e mesmo direção. Além de sempre precisar se atualizar, claro. No entanto, com boas ideias e um pouco de ludicidade, pode-se ganhar muito no mundo dos negócios e, em satisfação pessoal. É aí que o teatro pode ser uma excelente ferramenta.