terça-feira, 16 de agosto de 2011

HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO

Nunca estive no rol de fãs do ator Reynaldo Gianecchini, mas confesso que sou mais um dos que integram o coro de pessoas que torcem pelo seu restabelecimento. Fico imaginando receber um diagnóstico daquela temível doença que começa com “c” e termina com “r”, sobretudo para um rapaz tão jovem como ele. Mas, pensar que até mesmo um famoso galã de novela das oito pode, também, ser acometido por esse mal me faz ver que somos todos humanos e que tudo pode acontecer com qualquer um de nós, independente de quem sejamos. Inclusive com ele.

O mundo em que vivemos é um lugar pra lá de esquisito, não acha? Vendemos de tudo: felicidade, juventude, sexo, magreza... esses dias, fiquei espantado com um anúncio que vi atrás de um ônibus: era uma palestra que ensinava a gente a ser feliz. Juro! Mas, realmente, quem vê televisão todo dia precisa de um curso desses: são corpos esbeltos, “sarados”, uma beleza inalcançável, uma juventude eterna. Às mulheres, é proibido ter celulite. Aos homens, pelos no corpo, barriga de chope. Não existe velhice e tudo o que é velho deve ser descartado, inclusive as pessoas, de tal modo que ver um sujeito como o Gianecchini acometido de uma doença é, no mínimo, um contrassenso tal que espanta mais do que consterna. É como se ele “descesse ao mundo dos mortais” e se igualasse à gente que paga contas, que pega ônibus, que tem estria ou calvície. Ou, parafraseando Nietzsche, é mostrar o “humano, demasiadamente humano” do mundo da fantasia.

Acontece, no entanto, que mesmo um galã de novela das oito é, também, gente – e é essa a dimensão que se perde, quando se “coisifica” as pessoas. Ele também sente dor, também vai ao banheiro, também sente fome e sede, como qualquer um de nós. No entanto, a sanha por vender matéria é tamanha que até mesmo a doença do ator vira um produto, tal como ele também virou, desde que pôs os pés pela primeira vez num estúdio. Ao invés de imaginá-lo nas novelas, no entanto, fico pensando num rapaz triste, porém, esperançoso, deitado sobre uma maca, coberto por um fino lençol, com uma punção em uma das veias, recebendo soro e outros medicamentos, rodeado pela família. Só não consigo imaginar como estará ele se sentido, agora, ao ver tanta especulação sobre sua doença. O que será que ele pensa disso?

Acho que essa coisa toda em cima do Reynaldo Gianecchini serve pra nos mostrar que já passou da hora de nos reinventarmos, de reinventarmos as nossas demandas, esse nosso mundo em que vivemos. Sei que estou longe de ser algum teórico, mas creio que já chegamos a um impasse: ou nos olhamos como pessoas ou como produtos, mesmo, consumíveis, e, aí sim, os “cursos de felicidade” vão pipocar em todo Brasil. Tô fora! Nunca fiz um curso desses mas arrisco um conselho: felicidade não vem em caixinhas e, se você precisa de uma, então ligue o alerta vermelho, pois tem alguma coisa dando errado na sua vida. E a você, Gianecchini, vão aqui meus votos de um pronto restabelecimento, de um cara que não admira novelas, mas que, depois disso tudo, começa a admirar o ser humano que há dentro de você.