terça-feira, 8 de março de 2011

A MULHER E A LITERATURA

Hoje, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, gostaria de prestar minha singela homenagem utilizando-me de um de meus assuntos favoritos: Literatura. Fiquei pensando nas mulheres e nas letras, e na luta do gênero feminino em conseguir fazer valer o seu espaço nesse mundo que, inicialmente, era exclusivamente masculino, e, assim, sem nenhuma pretensão acadêmica, resolvi relacionar, de cabeça, algumas das escritoras que reputo fundamentais para o mundo das letras, aquelas que fizeram a diferença, sem prejuízo das outras, é claro. Bom, aí vai:


A primeira escritora de que me lembro foi a poetisa Safo (630 – 612 a.C.). Nascida na cidade lésbia de Mitilene, na Grécia, sua poesia foi conhecida por um forte apelo erótico, de grande qualidade e apreciada pelos seus pares, na época. Fundou uma escola, em que as alunas eram chamadas de “amigas” e para quem muitas de suas poesias foram dedicadas. Safo foi alvo de preconceito, anos depois, por conta de sua poesia, tendo várias delas queimadas, sobretudo na Idade Média, por monges copistas. Vem dela os termos “safismo” e até “lesbianismo”.

É difícil relatar escritoras durante a Idade Média, porém, algumas delas começaram a mostrar seus rostos (e escritos) sobretudo durante a Era Vitoriana (1837 – 1901). Podemos citar Emily Brontë (1818 – 1848) e Marry Shelley como principais ícones do movimento. Da primeira, podemos nos lembrar do famoso “O Morro dos Ventos Uivantes” (1847), publicado sob o pseudônimo masculino de Ellis Bell, recurso, aliás, muito comum na época, por conta do preconceito contra as mulheres escritoras; sobre a segunda, não podemos nos esquecer de “Frankenstein” (1849), além de histórias de vampiros.

Até mesmo em França, local mais avançado da época, o pseudônimo foi empregado. Que dizer de Aurore Dupin, mais conhecida como George Sand (1804 – 1876), apelido adotado após a autora conhecer o escritor George Sandou. Dela me lembro de “La Mare au Diable” e de sua ligação com o pianista franco-polonês Frédéric Chopin. Ainda no país, berço acolhedor de tantos artistas – até hoje, aliás – eu cito a estadunidense Gertrude Stein (1874 – 1946), criadora da famosa livraria Shakespeare & Co., em Paris, existente até hoje, ainda que não no mesmo lugar e ponto de acolhida de vários autores de língua inglesa. Mas não nos esqueçamos de Simone de Beauvoir (1908 – 1986), filósofa, escritora e feminista, uma campeã dos direitos das mulheres, autora, dentre outros, de “O Segundo Sexo”.

Em língua portuguesa, lembro-me de Florbela Espanca (1894 – 1930), com uma intensa poesia de feminilidade, erotismo e qualidade, apesar de incompreensão por seus pares, sobretudo uma ponta de ciúme dos autores masculinos, por óbvio; no Brasil, a explosão de autoras de deu Século XX e seria impossível relacionar todas elas; dou destaque a Raquel de Queiroz (1910 – 2003), primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras (em 1977), além de Cecília Meireles (1901 – 1964) e Clarice Lispector (1920 – 1977), só pra começar...

Aqui no Espírito Santo as mulheres também tiveram papel importantíssimo na busca de um espaço dentro das Letras. Maria Antonieta Tatagiba (1895 – 1928) foi a primeira mulher a publicar um livro de poemas de qualidade, em solo capixaba, reconhecidamente, o “Frauta Agreste” (1927), tendo a maioria de seus poemas escritos na forma de soneto e abraçando, na maior parte, o parnasianismo como estilo. Além dela, destaco Guilhermina Furtado Bandeira (1890 - 1980), a Dona Guilly Furtado, capixaba de Vila Velha e dona de dois prodígios: ser a primeira mulher capixaba a publicar um livro (“Esmaltes e Camafeus”, de 1919, com apenas um exemplar, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro) e ser a primeira escritora a entrar em uma Academia de Letras no Brasil, a do Pará, em 1913, 64 anos antes de Raquel, portanto (a foto é uma graça: 19 homens de fraque e cartola e uma única mulher, de chapéu e vestido!). Por fim, cita-se Haydée Nicolussi (1905 – 1970), moderna, escrevendo em versos livres e tendo publicado um único livro, “Festa na Sombra” (1943), de poesias.

A força da mulher escritora capixaba se vê também com a criação da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras, em 1949. Com o lema ubi plura nitent (que significa “lá onde muitas brilham”, retirada da Ars Poetica de Horácio) e tendo como símbolo a deusa grega Clio, a AFEL é uma das dez academias formadas exclusivamente por mulheres em nosso país. Tendo como alguns de seus membros fundadores as intelectuais Annette de Castro Mattos, Arlete da Silva Cypreste e Cypreste, Ida Finamore e Judith Castelo Leão, dentre outras, o silogeu passou por uma reformulação nos anos 1990, mas, infelizmente, até hoje, não conseguiu uma sede própria, o que mostra que, apesar das conquistas, a literatura (e sobretudo a de gênero feminino) carece de uma maior consideração.

Ainda sobre a mulher capixaba, é importante dizer que foi Judith Castelo Leão (1898 – 1982), educadora, deputada e escritora, a primeira mulher a entrar na Academia Espírito-Santense de Letras, na cadeira de número 12, furando o cerco exclusivamente masculino; e foi Maria Helena Teixeira de Siqueira (1927 – 2010), professora, advogada e empresária, a primeira mulher presidente daquele silogeu, dentre 2002 e 2004, sendo detentora da cadeira 40, de quem me orgulho em suceder. Atualmente, a AEL possui sete escritoras em seus quadros: Anna Bernardes da Silveira Rocha (cadeira 10), Maria Beatriz Figueiredo Abaurre (cadeira 25), Ester Abreu Vieira de Oliveira (cadeira 27), Maria das Graças Silva Neves (Gracinha Neves, cadeira 23), Magda Regina Lugon Arantes (cadeira 38), Neida Lúcia Moraes (cadeira 19) e Josina Nunes Drumond (Jô Drumond, cadeira 32).

Seria humanamente impossível relacionar todas as escritoras nesse breve texto, assim, peço perdão antecipado àquelas cujos nomes não citei, por uma questão de espaço – ou de esquecimento, mesmo! Em todo caso, gostaria de fazer deste texto um libelo da condição da mulher, reverenciando, principalmente, aquelas que conseguiram transpor as barreiras de séculos de falocracia, de machismo, conseguindo dar uma face à sua literatura e brindando-nos com seu talento e sensibilidade. A todas vocês, mulheres, parabéns pelo seu dia!